Setor espera ter chegado ao fundo do poço. Expectativa é de retomada
— Ainda é cedo para definir o movimento atual como tendência. Não é uma virada. Mas, sem dúvida, aponta melhora na perspectiva do setor imobiliário. Pode indicar o início de um novo ciclo — pondera Luiz Fernando Moura, diretor da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). — No Rio, os lançamentos para a classe média estão um pouco melhor. E os voltados para o segmento popular têm ido bem.
No Rio, pesam ainda a crise no setor de petróleo e gás e a crise financeira do estado. Mas, para João Paulo Matos, presidente da Ademi-RJ, a retomada é questão de tempo:
— Vivemos um recomeço lento, porque o país ainda enfrenta incertezas. Neste fim de ano, os lançamentos ainda são tímidos. Mas, em 2017, é um movimento que tende a continuar e a acelerar.
O volume de imóveis em estoque, diz Matos, caiu para menos da metade do total disponível no ano passado, o que explica o início da recuperação dos preços e da retomada de novos projetos. O setor estima encerrar este ano com perto de R$ 3,5 bilhões em vendas no Rio, contra R$ 2,3 bilhões em 2015. Em lançamentos, foram 3.548 unidades de janeiro a setembro, ainda bem abaixo das 5.241 de igual período de 2015.
UNIDADES COMPACTAS E COM SERVIÇOS
Quando se examinam os dados nacionais, o cenário também está um pouco melhor. Em agosto, as vendas de imóveis cresceram 1,4% frente ao mesmo mês de 2015, depois de 13 meses consecutivos de queda. Em 12 meses, há recuo de 13,3%. Em agosto, subiram também os lançamentos (70%) e a entrega de novas unidades (13,8%). No entanto, o volume de distratos cresceu, 2,8%, contra uma média de 1,7% nos 12 meses anteriores.
— Os distratos ainda estão muito altos. E o consumidor tem comprado apenas imóveis com preço muito baixo, enquanto os estoques ainda estão parados. Mas projetos menores e em áreas de maior demanda vendem bem — diz um executivo do setor, que prefere não ser identificado.
Limitação de crédito e distratos, segundo Matos, da Ademi-RJ, são os maiores entraves ao desenvolvimento do segmento imobiliário.
— Temos cinco lançamentos à venda agora, num ano em que não houve quase nada, apenas três desde janeiro. Pode ainda não ser a retomada com força, mas os estoques estão caindo, e 2017 deve começar com melhora de mercado — afirma Rubem Vasconcelos, presidente da imobiliária Patrimóvel, que prevê que em mais um ano as unidades hoje em estoque devam zerar. — Aí, vira a chave. Os lançamentos serão retomados e o preço vai voltar a subir.
Na fornada de projetos que estão chegando ao mercado, há um movimento claro de desenhar empreendimentos para atender a públicos específicos, com destaque para residenciais com unidades de pequeno porte, como estúdios e apartamentos de um ou dois quartos no Centro do Rio, afirmam profissionais do setor.
— Iniciativas focadas em nichos ou regiões específicas podem puxar a mudança de humor nesse mercado e trazer alento às atividades — pondera Moura.
Os residenciais compactos e com serviços no Centro visam a fisgar jovens profissionais ou casais em busca do primeiro imóvel. Os prédios, de design contemporâneo, têm lavanderia compartilhada, bicicletário e lojas no térreo. São estúdios e unidades de um e dois quartos, com preços a partir de R$ 400 mil. Os lançamentos incluem o Urban, da MDL, e o Mood, da Gafisa. Há ainda o Moinho, complexo imobiliário que Vinci Partners e Carioca Engenharia lançam no início de 2017. O empreendimento, que conta com hotel e mercado de gastronomia, ocupará o prédio histórico do Moinho Fluminense, no Porto Maravilha.
— Os apartamentos pequenos e funcionais, em especial em áreas com boa oferta de transporte e emprego, têm demanda. Têm preços mais acessíveis e cabem no bolso do público mais jovem, que busca arranjos mais flexíveis para morar e se casa mais tarde — diz Bruno Oliva, economista da Fipe.
Outras construtoras focam em demandas da classe média. A Even lançou o YouBotafogo, cuja segunda fase abriu este mês. Ao todo, serão dois blocos, com apartamentos de dois e três quartos, com preços a partir de R$ 880 mil. Maurício Belo, diretor da construtora no Rio, ressalta que o segmento é muito competitivo. Já a Gafisa lançou este mês um condomínio com 267 unidades de dois e três quartos na Tijuca — o único empreendimento da companhia no Rio este ano, ante dois em 2015. Um projeto como o Like Tijuca, diz Geraldo Rodrigues, gerente de novos negócios da Gafisa, gera perto de 700 empregos, entre diretos e indiretos, no pico das obras.
APOSTA DE RECUPERAÇÃO EM 2017
A Brookfield também aposta em projetos de maior porte. Após dois anos sem novos projetos no Rio, são três lançamentos em 2016: Jacarepaguá, Cachambi e Barra da Tijuca. Juntos, somam R$ 280 milhões em valor de vendas.
— Haverá recuperação do mercado em 2017. E o lançamento imobiliário mexe também com o estoque. Na planta, o consumidor paga um volume menor como sinal, o que facilita o pagamento. Com o dinheiro mais controlado, é uma oportunidade melhor para quem planeja comprar — argumenta Marco Adnet, diretor da Unidade de Negócios Rio da Brookfield Incorporações.
Mas ainda há instabilidade. A Calçada, por exemplo, fez dois lançamentos em 2015, mas nenhum este ano. Apenas está entregando o Vogue, complexo com escritórios, hotel e shopping, na Barra.
— Quem já tinha projetos na gaveta começa a colocar na rua, até como forma de testar a demanda. O foco em demandas específicas é uma maneira de reativar o negócio com menor risco — diz Cláudio Hermolin, diretor de incorporação da Calçada.