Fonte: G1 Acre

Ainda inacabado, casas sem janelas, portas, telhas e totalmente depredadas são encontradas em um residencial de Rio Branco. Com as obras paradas e financiamentos atrasados, o residencial Andirá acabou tornando-se alvo de vândalos.

As casas, que seriam para famílias de áreas alagadiças e de vulnerabilidade social, estão cheias de entulhos e precisam de reforma para receber os futuros moradores. O G1 procurou a  secretária de Habitação do Acre, Janaína Guedes, e foi informado que engenheiros visitaram um dos locais e avaliaram os prejuízos em R$ 600 mil.

Desse dinheiro, a secretária garantiu que R$ 500 mil já foram adquiridos e espera a conclusão do processo licitatório para reformar as casas depredadas. A nova previsão de entrega está prevista para o primeiro semestre de 2017.

Reportagens do G1 mostram que, por diversas vezes, a polícia flagrou pessoas furtando ou roubando materiais do Residencial Andirá. Um desses furtos foi flagrado no último dia 2, quando o suspeito tentou enganar a PM ao dizer que estava defecando no local, quando na verdade estava furtando telhas. Em setembro, um jovem de 20 anos foi preso por roubar madeira das casas. Já em maio, a polícia prendeu uma pessoa furtando 11 caixas d’água, dentre outros materiais.

Moradora do Residencial Andirá há três anos, a dona de casa Dayane Cristini, de 35 anos, lembra com precisão o dia em que recebeu a casa do governo do Acre. Ela afirma que, dentre as promessas, estava uma área de lazer para as crianças que nunca foi construída.

“Não tem como elas brincarem, ficam na beira da rua. Iam entregar tudo pronto, mas isso não aconteceu. Já levaram vasos sanitários e até pias. Entregaram só três ruas e o resto ficou aí. Tem muita gente que precisa”, disse.

Maria Jesuína disse que tem cadastro na Sehab há oito anos e não foi sorteada (Foto: Aline Nascimento/G1)Maria Jesuína disse que tem cadastro na Sehab há
8 anos e não foi sorteada (Foto: Aline Nascimento/G1)

Inconformada por não ter sido sorteada, Maria Jesuína, de 42 anos, conta que mora com uma prima – além de mais seis pessoas – em uma das 42 casas prontas do conjunto.

Ela afirma que possui cadastro na Secretaria de Habitação do Acre (Sehab) há oito anos, mas nunca foi contemplada.

“Minhas filhas eram pequenas quando fiz o cadastro e hoje minha filha mais nova tem 13 anos. Elas estão jogadas em casas de parentes. À noite vem e levam as coisas, as pessoas não têm consciência de que precisamos. Teve roubo agora dessas casas e não ganhamos nada”, revolta-se.

O roubo que Maria fala é da fraude descoberta na Operação Lares da Polícia Civil, deflagrada em fevereiro deste ano. As investigações apontam que funcionários públicos estariam envolvidos em um esquema de fraude na entrega de casas populares.

Os ex-diretores executivos da Sehab, Daniel Gomes e Marcos Huck, além da ex-terceirizada Cícera Silva e a empresária Rossandra Lima, foram presos apontados pela polícia por envolvimento no esquema.

No Acre, a Sehab diz ter entregado 34 conjuntos habitacionais ao longo das duas gestões do atual governador do Acre, Tião Viana, e gestão passada, do ex-governador Binho Marques. Na capital, Rio Branco, foram 28, três em Cruzeiro do Sul, e um em três cidades: Bujari, Feijó e Sena Madureira.

Dos que estão em fase de execução ou com obras atrasadas, a secretaria listou o Andirá, Cabreúva (em fase de execução) e a Cidade do Povo (em fase de execução), considerado o maior conjunto habitacional do estado. Na gestão de Viana, no total, foram entregues mais de 12 mil casas.

Lotemento tem casas sem telhas, janelas e acumula lixo no interior (Foto: Aline Nascimento/G1)Loteamento tem casas sem telhas, janelas e acumula lixo no interior (Foto: Aline Nascimento/G1)

Andirá
As casas do residencial começaram a ser construídas em 2010 e a obra seria concluída quatro anos depois. Em 2013, o governo do estado entregou 42 residências, restando mais de 300 para conclusão. Devido a problemas com repasses nos financiamentos e com empresas contratadas, a Secretaria de Habitação do Acre (Sehab) informou que as obras foram adiadas.

“Eram três linhas de financiamento: dois do Orçamento Geral da União (OGU) e um de operação de crédito da Caixa. Uma das primeiras empresas teve problemas de cumprimento de contrato e tiveram que ser rescindidos. Cerca de um ano depois, tivemos problemas com os recursos. Faltou do OGU e o ritmo da obra diminuiu. Quando parou, o canteiro continuou lá, mas depois foi retirado e, infelizmente, começaram os furtos”, disse a secretária da Sehab, Janaína Guedes.

Sobre os atrasos nas obras, a Caixa Econômica informou, por meio da assessoria de comunicação, que o processo de reforma das casas nos dois residenciais está em andamento.Na Cidade do Povo, a Caixa afirmou que as obras foram retomadas

A secretária afirma que parte da falta de recursos é devido à crise financeira que o país atravessa. Ela diz que entrou em negociação com a Caixa Econômica para entregar o projeto por partes, já que o contrato inicial garantia que o residencial seria entregue apenas quando fosse concluído.

“As dificuldades foram várias ao longo do tempo de execução. Hoje estamos enfrentando o problemas de depredação e falta de recursos estadual e federal. Não houve irresponsabilidade por parte do governo ou da Sehab. Precisamos de uma melhoria do quadro nacional para conseguir recursos e retomar a obra”, destacou.

Algumas casas foram concluídas, mas o capim e os vandâlos invadiram o local (Foto: Aline Nascimento/G1)Algumas casas foram concluídas, mas vandâlos
invadiram o local (Foto: Aline Nascimento/G1)

Janaína acredita que com a reforma e o dinheiro investido, algumas casas possam ser entregues em 2017.

Cabreúva
No Residencial Cabreúva, 12 casas do conjunto foram construídas em cima de uma adutora e não puderam ser entregues por causa do problema. Essas unidades foram depredadas e estão desocupadas. As obras, financiadas pelo Fundo de Arrendamento Residencial da Caixa (FAR), iniciaram em 2008 e o projeto previa a construção de 96 unidades.

“A Sehab vai fazer o desvio da adutora e a Caixa a reforma das casas para entregar às famílias. O desvio da adutora nós já estamos licitando. Já fizemos duas licitações, mas uma deu deserta e a outra fracassada. A entrega deve ser até o primeiro semestre do ano que vem”, garantiu Janaína.

Rachele disse que teve a casa invadida por criminosos logo que mudou para o residencial (Foto: Aline Nascimento/G1)Rachele disse que teve casa invadida por criminosos
quando se mudou (Foto: Aline Nascimento/G1)

A dona de casa Rachele Firmo, de 28 anos, mora ao lado de um dos imóveis depredados e revelou que o local sempre está cheio de pessoas usando entorpecentes ou bebidas alcoólicas.

Rachele mudou para o residencial há dois anos, quando foi retirada do bairro Cadeia Velha e levada para o Aluguel Social.

“Só deixo meus filhos brincarem quando estou olhando. Antes era cheio de gente fazendo festa, faziam de tudo aí dentro. Agora que não tem nem telha, não vêm mais. No começo, arrombaram muitas casas, mas agora parou. Entraram na minha também. Fui pegar as notas da minha filha um instante, entrou um rapaz de outro conjunto e levou meu celular”, reclamou a mãe.

Doze casas foram depredadas por criminosos no Residencial Cabreúva (Foto: Aline Nascimento/G1)Doze casas foram depredadas por criminosos no Residencial Cabreúva (Foto: Aline Nascimento/G1)

Cidade do Povo
O maior conjunto habitacional já planejado pelo governo do Acre previu a construção de 10 mil casas e, até o final da entrega, mais de 50 mil pessoas devem estar morando no local. Os imóveis começaram a ser construídos em 2014 e, dois anos depois, ainda faltam 346 casas para serem concluídas. Em três anos, segundo a secretária da Sehab, o governo já entregou três mil casas no conjunto.

A secretária Janaína Guedes afirmou que a construção das 346 casas faz parte da fase de conclusão da primeira etapa do conjunto habitacional.

O conjunto recebeu um investimento de R$ 24 milhões e conta com postos de saúde, Unidade de Pronto Atendimento, comércios e escolas. As casas foram destinadas às pessoas de áreas alagadiças e que ficavam desabrigadas durante as enchentes do Rio Acre.