Fonte: Folha PE

Talvez você tenha esbarrado em algum prédio misto por aí, mas não tenha dado conta do va­lor urbano que ele exerce sobre a cidade. Com estrutura verticalizada, o empreendimento reúne espaços comerciais e residenciais, confundindo vidas pública e privada. Apesar de ter caído no esquecimento das construtoras nos últimos anos, o modelo deve voltar com tudo por ter uma proposta na qual a residência não fique alheia à rotina urbana. “Se você observar os prédios de classe mé­dia alta, por exemplo,
perceberá que já há um movimento de resgate nesse sentido”, explica a professora de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Lúcia Ve­ras.
Para ela, o espaço comercial atrelado às áreas residenciais dá movimento à estrutura e deixa as fachadas mais ativas. “Sempre foi comum, nos bairros de São José e de Santo Antônio, os comerciantes venderam açúcar e tecido duran­te o dia e, à noite, se recolherem em suas casas na parte superior do imóvel”, relembra. Passados quase dois séculos desse episódio narrado pela professora, existe ainda quem opte por esse modo de viver.
É o caso da cabeleireira Darlene Elias, de 48 anos. Há 22 anos no ofício, a empresária passou 20 anos dividindo sua rotina entre a casa e o trabalho. “Chegou uma hora que o cansaço bateu e tive que optar por morar no mesmo prédio onde fica meu salão”, explica. Ela colocou seu apartamento, que fica no bairro do Cordeiro, para alugar e assumiu um contrato temporário no Edifício Santa Maria, na Madalena. Lá, inclusive, serve de reduto para jovens universitários. “Lojas de conveniência, de serviço e salão de beleza são verdadeiras iscas para esses moradores”, diz, destacando que boa parte da sua clientela é oriunda da região.
Já para a síndica do emblemático edifício Pirapama, localizado na Conde da Boa Vista, a forma de moradia mista é atrativa e cômoda. “Acabei me acostumando a esse estilo de vida. Meu único meio de transporte é o elevador. Me habituei até com a agitação”, afirma. No Pirapama, são 220 apartamentos entre residenciais e comerciais. “Apesar de todos respeitarem as regras, confesso que é complicado gerir um empreendimento desse por­te, com pessoas de diversos costumes”, avalia.
Segundo o comerciante Hugo Leonardo da Silva, de 30 anos, ter o negócio em um prédio misto no bairro da Encruzilhada é a garantia de que o negócio vai dar certo. “A vantagem é que a gente aproveita a clientela que mora no entorno ou em cima do meu box. O nosso espaço acaba virando uma extensão da casa dos vizinhos. Não tem como não ter movimento”, revela.
Abocanhar esse mercado é a nova aposta da Porto Engenharia. A construtora lançou o empreendimento MultiPorto Indianópolis. Localizado em Caruaru, o imóvel busca reunir conveniência e comodidade ao futuro morador. Com 224 unidades residenciais de um quarto, divididas em dois blocos de 14 pavimentos, além de dez lojas no térreo.

O modelo é focado nos clientes que buscam a primeira moradia, como jovens, profissionais liberais e recém-casados.

“Além de resgatar a vida de bairro e a convivência, o empreendimento misto é bom para a cidade e para o morador. O Recife tem muito desses empreendimentos no Centro, mas eles acabaram se degradando com o tempo e, muitas vezes, são associados a coisas ruins. O que a gente está tentando ressaltar é que existe potencial para o mercado”,
ressalta o diretor da Porto Engenharia, Thiago Melo. A ideia da empresa é expandir o conceito para o Estado. O imóvel custa a partir de R$ 170 mil e está enquadrado no Minha Casa, Minha Vida.