Fonte: O São Gonçalo

A decisão da Justiça, que retirou de circulação os ônibus Vermelhinhos de circulação em Maricá – a pedido de empresas de transportes que operam na cidade – deixou um ‘vácuo’ para quem depende do serviço. No Terminal Rodoviário, no Centro, o movimento de passageiros está reduzido nos horários de pico, comprovando que a maior parte dos usuários do sistema Tarifa Zero são pessoas sem recursos para utilizar o transporte público comum.

“Antes não gastava nada para vir para ao Centro, mas agora terei de gastar, sem falar no tempo que se perde a espera dos outros ônibus”, relatou o camelô Ronaldo Coelho, de 53 anos, morador de Inoã, ao lado das baias vazias onde paravam os coletivos da Empresa Pública de Transportes (EPT).

A faxineira Andreza Oliveira, de 39 anos, por exemplo, garante que sua rotina se complicou. “Estava desempregada e comecei a trabalhar recentemente. O Vermelhinho era ótimo porque não precisava de dinheiro para fazer meus serviços, também porque não tinha”, afirma a diarista, que mora em Cordeirinho e deixou de começar em uma casa no Centro na última quinta-feira por falta de recurso. Ela pediu desculpas à pessoa que a contratou e prometeu tentar fazer o trabalho, se conseguir dinheiro para as passagens – a tarifa municipal é R$ 2,70, mas a maioria dos ônibus que percorre o município atende a linhas intermunicipais, o que eleva o valor da tarifa para R$ 4.

“Quando minha mãe precisa ir ao médico eu sempre vou junto, só que ela não paga passagem, mas eu sim. Essas empresas não são nenhum benefício aos passageiros.”, completou.

Poucos lugares sentiram tanto a suspensão do serviço de transporte público gratuito como a área onde fica o Residencial Carlos Alberto Soares de Freitas, condomínio do programa Minha Casa Minha Vida construído no interior do bairro de Inoã. Para as 1.500 famílias que se mudaram para o local, e todos os vizinhos, os Vermelhinhos eram a única opção de transporte, já que não há linhas licitadas para as concessionárias na área. Agora, quem mora ali, além de gastar o que não tem – o condomínio do MCMV é destinado a famílias de baixa renda inscritas no Cadúnico do Bolsa Família – é preciso caminhar 1,5 quilômetro no tempo até a rodovia.

Morador do conjunto, o ambulante José Ronaldo Pereira de Almeida procura um lugar no Centro para ficar de segunda a sexta-feira, pois ficou difícil pagar as passagens.

“Já estou ficando de favor na casa de um amigo, não é todo dia que a gente tem dinheiro”, afirma, calculando em aproximadamente R$ 250 o gasto mensal com transporte.

O caso de Deise Félix Queiroz, de 31 anos, é pior: com problemas neurológicos, e sem recursos, a dona de casa deixou de sair do condomínio para as visitas diárias ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS, vinculado à Secretaria de Assistência Social), no Centro, onde fazia tratamento. O filho dela, que tinha conseguido fazer curso gratuito de informática, também parou de frequentar as aulas por não ter dinheiro para a passagem. As empresa que operam em Maricá colocaram coletivos nos itinerários de âmbito municipal que eram percorridos pels ‘Vermelhinhos’.