Fonte: Bom Dia Brasil
Dois deputados federais do Amapá alugam vários imóveis a preços acima do mercado e pagos com dinheiro público. Alguns desses imóveis não têm sinal de atividade dos parlamentares.
Dinheiro público que é da Câmara dos Deputados. A equipe do Bom Dia Brasil visitou alguns desses imóveis, tem até gente morando neles. O deputado federal André Abdon, do PP, aluga sete imóveis no estado e o deputado Vinícius Gurgel, do PR, aluga quatro. A Câmara informou que a verba só pode ser usada para pagar escritórios de apoio à atividade parlamentar.
Todo deputado tem direito a um gabinete em Brasília e também a um escritório para atividade parlamentar no estado. E sete imóveis alugados? É o que tem o deputado André Abdon, do PP do Amapá. Quem paga a conta? A Câmara. Mas quem usa?
Em um dos imóveis, em Macapá, funciona a representação do Partido Progressista. Foi o que informaram para o Bom Dia Brasil. Em outro endereço informado pelo deputado, em Santana, a 20 km da capital, uma casa de dois andares. Ninguém atendeu. A vizinha do lado disse que não tem nada de escritório, lá é uma residência, e contou que o morador é um vereador chamado Rarisson.
O vereador, que é morador, é também o locador do imóvel para o deputado. Os recibos que servem de base para o reembolso estão todos assinados por ele. Também fogem do padrão a quantidade e valor dos aluguéis contratados pelo deputado André Abdon. Foram R$ 208,2 mil para bancar os imóveis alugados, quase metade da cota parlamentar a que o deputado tem direito.
O gasto do deputado Abdon, sozinho, é maior que o dos oito deputados de Tocantins juntos, com aluguel e material de escritório.
Vinícius Gurgel, do PR, outro deputado do Amapá, também tem gasto alto com alugueis, quatro no total. Recebeu um reembolso da Câmara de R$ 160 mil, 35% de toda a verba que ele pode usar. Um dos imóveis alugados estava fechado e, no outro, o morador disse que nunca viu Vinícius Gurgel.
Horas depois que o Bom Dia Brasil encontrou dois imóveis fechados em Macapá, a assessoria do deputado Vinícius Gurgel abriu as portas para dizer que eram escritórios. Segundo a assessoria, em um deles, que tem três salas mobiliadas, Vinícius Gurgel recebe políticos, e, no outro, ele recebe as demandas dos eleitores.
E tem mais um detalhe, os deputados André Abdon e Vinicius Gurgel alugaram sala da mesma pessoa, Rômulo Sérgio Alves do Nascimento, um candidato a prefeito de Porto Grande, a 100 km de Macapá, que não se elegeu. Ele declarou ter uma casa de R$ 30 mil. Só de aluguel para os deputados, teriam sido pagos para ele quase R$ 280 mil de 2011 para cá.
O Bom Dia Brasil ouviu corretores sobre quatro imóveis alugados pelos deputados. A avaliação foi com base no tamanho, as ruas e os bairros. Em um dos endereços do deputado André Abdon, que foi alugado por R$ 4,8 mil, os corretores disseram que o valor estava acima do de mercado.
“Aqui nós conseguimos atingir um valor mínimo de R$ 1,1 mil e podendo atingir até o valor máximo de R$ 1,5 mil”, disse o corretor de imóveis Phillip Rocha.
No endereço do deputado Vinícius Gurgel, alugado no centro de Macapá por R$ 5 mil, os corretores disseram que o valor máximo não deveria passar de R$ 2 mil. “A localidade não comporta essa estimativa de valor elevada duas vezes e também há a questão do tamanho do ponto, da área comercial a ser avaliada. Então a gente não conseguiria atingir esse valor”, completou o corretor.
Dos 513 deputados, só 20 gastaram, este ano, R$ 100 mil ou mais com aluguéis de imóveis e só os dois do Amapá não apresentaram despesas como condomínio, água, luz, que aparecem na prestação de contas dos outros deputados.
A Câmara disse que não tem limite para gasto com aluguéis, desde que sejam imóveis usados exclusivamente para apoio à atividade parlamentar, falou que está melhorado o controle e uso da cota parlamentar, e não fez comentários sobre caso dos dois deputados.
O deputado federal Vinícius Gurgel confirmou que tem quatro escritórios políticos, que considera importante manter os dois escritórios no interior, porque teve boa votação nos dois municípios.
O deputado André Abdon disse que o critério de escolha dos imóveis baseia-se na representatividade do parlamentar nos sete maiores municípios do estado. Ele disse que é importante destacar que o valor de R$ 210 mil corresponde ao valor total anual e não mensal. Ele também disse que as despesas com condomínio estão incluídas nos valores pagos nos aluguéis, que água e energia não são pagas com a verba de gabinete.